sexta-feira, 30 de junho de 2017

Maria Quitéria

Maria Quitéria

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Retrato de Maria Quitéria
Para quem mora no Rio de Janeiro, a Rua Maria Quitéria fica em Ipanema entre a Rua Joana Angélica e a Av. Garcia de Ávila. Em São Paulo, fica perto da Rua Vergueiro. Em Feira de Santana, a Av. Maria Quitéria é uma das mais importantes da cidade. O nome está em todo lugar, mas o que muitos ainda não sabem é quem, de fato, foi Maria Quitéria.
Eu gostaria de entrar nua no rio, caso estivesse no sítio do meu pai. Mas estou aqui entre homens, somos todos soldados, e o banho no Paraguaçu é forçado. [...]
Queríamos que os agressores desembarcassem para o combate em água rasa da margem. E eles vieram, aos brados. Traziam armas brancas. Alguns as mordiam com os dentes. [...]
Pensei outra vez no sítio, na rede em que costumava embalar-me. Ali tudo era cálido, os panos convidavam ao sono. Aqui, luta-se pela vida, pela nossa Cachoeira, pela Pátria.
Quem descreveu essa cena foi o escritor brasileiro Hélio Pólvora, e ele faz menção à heroína brasileira que, fardada como um homem, defendeu a foz do Rio Paraguaçu durante a guerra da Independência da Bahia. Essa foi Maria Quitéria: uma mulher que se alistou às tropas brasileiras contrariando a vontade do pai, que definia a guerra como um lugar para homens, e ajudou a expulsar os portugueses de uma vez por todas de Salvador, consolidando assim o fim do conflito e ajudando a preservar o nosso território nacional.
Maria Quitéria retratada no Museu da Cidade em Salvador
Nascida no sítio de Licorizeiro, nos arredores de Cachoeira, em 1792, Maria Quitéria teve uma infância sofrida. Perdeu a mãe aos dez anos de idade e logo cedo assumiu a responsabilidade de ajudar a criar os dois irmãos mais novos. Seu pai casa-se novamente, mas como uma ironia do destino, sua madrasta adoece e morre pouco depois. Sua segunda madrasta tem uma atitude mais de carrasca, e Quitéria não se dá bem com ela. Em 1822, batem à sua porta emissários de D. Pedro I recrutando voluntários para lutar em nome do Imperador e da Independência do Brasil. Salvador estava sob o domínio dos portugueses liderados pelo general Madeira de Melo, e o Recôncavo Baiano juntava forças para contra-atacar. Com a ajuda da irmã Teresa, Quitéria corta o cabelo, pega emprestado a farda do cunhado e também o seu nome, Medeiros, com o qual se alista no Batalhão dos Voluntários do Imperador, que ficou conhecido como o Batalhão dos Periquitos, comandado por ninguém menos que o major Silva Castro, avô do poeta Castro Alves. Maria Quitéria, ou melhor, o Soldado Medeiros, demonstra extrema destreza para montar cavalo e atirar.
Monumento a Maria Quitéria de Jesus, "Soldado Medeiros"
Tamanha era sua habilidade e importância para a tropa que, mesmo quando revelada a sua identidade, graças a uma denúncia feita por seu próprio pai, ela continuou aceita e foi defendida pelo seu comandante. Hélio Pólvora continua:
Estou guerreando, sim, para libertar Maria Quitéria de Jesus Medeiros da tirania paterna, dos sofridos afazeres domésticos, da vida insossa.
Ah, eu combato, com água no nível dos peitos, pela libertação da Mulher, pela nova Mulher que haverá de surgir.
Maria Quitéria é até hoje um dos melhores símbolos nacionais da emancipação feminina.
Livro de João Francisco de Lima, Nova Época Editorial
Ela lutou pela Independência do Brasil sim, mas tão importante quanto isso foi sua luta icônica pela libertação da figura da mulher em uma sociedade patriarcal e machista. Vale enfatizar a época novamente: início do século XIX! Se às vezes nos sentimos, ainda hoje, em uma sociedade controlada pelo sexo masculino, imagine dois séculos atrás. Por isso a coragem de Maria Quitéria ressoa com tanta propriedade através do tempo. Após a vitória brasileira consagrada em 2 de julho de 1823, Quitéria é convocada por D. Pedro I a ir ao palácio real no Rio de Janeiro onde foi condecorada com a Imperial Ordem do Cruzeiro. O Imperador escreveu ainda uma carta pedindo que Gonçalo, o pai de Quitéria, a perdoasse por sua desobediência. Ela retorna ao sítio do pai, é perdoada e casa-se com o antigo namorado, com quem tem uma filha.
Nunca nos deixemos esquecer de quem foi Maria Quitéria de Jesus. Repasse esse post aos seus amigos, comente, critique. O importante é manter viva a lembrança e os feitos desta que é, sem sombra de dúvidas, uma das heroínas mais estimulantes do 2 de julho baiano e da História do Brasil.