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  • Fernando Vivas - 7.nov.2016/Folhapress
    O agricultor Jovenito José dos Reis e seu neto, Carlos Henrique, em frente ao tanque que escavou em seu sítio no povoado de Boqueirão, em Santa Bárbara (BA), cidade que decretou situação de emergência por causa da seca que já dura cinco anos na região
    O agricultor Jovenito José dos Reis e seu neto, Carlos Henrique, em frente ao tanque que escavou em seu sítio no povoado de Boqueirão, em Santa Bárbara (BA), cidade que decretou situação de emergência por causa da seca que já dura cinco anos na região
Cinco anos de chuvas escassas deixam Estados nordestinos em alerta. Crise atinge também cidades grandes, que aguardam transposição do rio São Francisco, afetado pela seca. Projeto só deve ser concluído em 2018.
Em Irecê, na Bahia, a hora mais aguardada da semana é a entrevista dada pelo meteorologista na rádio. É quando os moradores esperam ouvir notícias sobre a chegada da chuva, tão aguardada no semiárido para amenizar a severa seca que assola o Nordeste há cinco anos.
O produtor rural João (nome fictício) nem sempre entende a linguagem do especialista. Neste ano, ele perdeu toda sua produção de milho e não para de furar poços atrás de água para irrigar o único hectare de beterraba que tenta cultivar.
Nunca furei tanto poço na minha vida. Quando encontramos água, é a 200 metros de profundidade, e a gente nunca sabe quanto tempo ela vai durar."
Irecê, localizada no polígono da seca, vive um fenômeno que chama a atenção dos técnicos: a cidade está afundando. O motivo é a quantidade de poços perfurados, feitos sem planejamento integrado por produtores desesperados por causa da escassez. Em todos os estados do Nordeste, a seca não se restringiu às zonas rurais mais vulneráveis, mas também avançou para grandes centros urbanos.
Em Campina Grande, na Paraíba, um dos principais polos industriais da região, a crise impôs um racionamento há meses. O açude Epitácio Pessoa, que leva água à cidade e a outros 18 municípios, está com 5% de sua capacidade.
Esse é o pior nível registrado desde a sua construção, no fim da década de 1950. "Se não chover, não haverá água a partir de março", admite Paulo Varella, presidente da Agência Nacional de Águas (ANA).
"Acompanhamos o cenário em tempo real da nossa sala de situação e atuamos junto aos estados na gestão da crise", complementa. Açudes e cisternas vazias No sertão e agreste de Pernambuco, dados apontam para o aumento da área de escassez hídrica e temperaturas até 6 °C acima da média.
O Monitor de Secas, ferramenta administrada pela ANA que acompanha a evolução do fenômeno no Nordeste, mostra o aumento da mancha vermelha mais escura no mapa, que indica "seca excepcional". Mesmo no Ceará, que se destaca pela maior capacidade dentre os demais Estados nordestinos para reservar água em açudes, a situação é crítica.
"Cortamos a irrigação para garantir o abastecimento humano", diz Francisco José Coelho Teixeira, secretário estadual de Recursos Hídricos. Mais de 2 mil poços foram perfurados desde 2012, além de 200 mil cisternas construídas na última década para aumentar a resiliência da população.
A infraestrutura não afastou a crise: "Em meio a esse cenário, o que está garantindo o sustento das comunidades é o Bolsa Família", acrescenta Teixeira, lembrando que a única fonte de renda dessas famílias era a agricultura.