sexta-feira, 17 de junho de 2016

A castração química impede estupradores? Entenda como o tratamento funciona

O método é efetivo para estupradores?

Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
Cartaz é colocado em Curitiba durante protesto pelo fim da cultura de estupro

"O que acontece é que o impulso sexual do indivíduo diminui, mas o interesse continua. Em casos de estupradores não é apenas uma questão orgânica que importa, o problema também é 'intelectual'", afirma Ribeiro. "É claro que a castração não cura, não transforma a ideologia. Mesmo se não tiver ereção, o agressor pode praticar violência sexual de outras maneiras", diz Ribeiro.

As drogas vão mexer com o organismo do homem, mas não impedem o agressor de repetir os delitos. Apesar de ter o impulso sexual diminuído, a libido e os desejos continuam.
Além disso, como o projeto de lei não deixa claro quais serão os termos de uso, médicos também se preocupam com o uso contínuo dos remédios. "O criminoso vai se medicar pelo resto da vida? Em longo prazo, esse tipo de medicação pode ter efeitos colaterais como osteoporose, perda de massa muscular, dificuldades na memória e até doenças vasculares", afirma Meller.
Na Indonésia, por exemplo, um decreto que autoriza a castração química de pedófilos e exige que usem dispositivos de monitoramento eletrônico em liberdade condicional foi aprovado em maio deste ano, em resposta a um estupro coletivo e assassinato de uma menina de 14 anos. Apesar do decreto, a associação médica nacional pediu para seus membros não cooperarem e afirmou que "com base em provas científicas, a castração química não garante a perda ou a redução do desejo e potencial comportamento sexual violento".
Segundo o psiquiatra Danilo Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC, um estuprador precisaria ser avaliado por especialistas para saber qual seria o tratamento indicado, qual o diagnóstico exato e se o melhor seriam consultas psiquiátricas ou remédios. "Cada caso é um caso, o problema pode ser uma doença, agressividade ou aprendizado cultural. O preso deve ser tratado como qualquer outro, mas é preciso separar as decisões médicas das jurídicas e não padronizar tratamentos".
De acordo com estudos desenvolvidos na UnB, em 2010, mesmo em casos de transtornos mentais, como a pedofilia, 90% dos agressores respondem bem a tratamento psiquiátrico aliado a antidepressivos, e apenas 10% precisam também de medicamentos hormonais de controle da testosterona. Mesmo nestes casos é recomendada a terapia.
Apesar das incertezas e polêmicas, o método é usado em alguns países. Nos Estados Unidos, doze Estados usam a castração em casos de violência sexual. Na Califórnia, por exemplo, até a castração cirúrgica é proposta para criminosos reincidentes que quiserem redução de sua pena. Na Argentina, a província de Mendoza adotou a castração química após notar grandes índices de reincidência nos casos de crimes sexuais.





Mulheres vão às ruas contra cultura do estupro39 fotos

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