terça-feira, 16 de abril de 2013

Nordestina: Drama da seca expõe as famílias a um quadro de miséria total 16/04/2013 14:22:00


image Ana Paula Silva, 25 anos, um exemplo de miséria absoluta
Das 2.291 famílias em situação de pobreza no município de Nordestina, 950 delas vivem sem perspectiva de vida, em extrema situação de miséria, retratando a dura e crua realidade desse povo castigado pela seca.
Para se deparar com a desigualdade social no estado, não é preciso ir muito longe, porque um pedacinho da Somália parece estar encravado no semiárido baiano. Os governos estadual e federal deixam transparecer que estão mais preocupados com a construção de obras imponentes para a Copa de 2014 do que cuidar do povo que está morrendo de fome e sede e, na maioria das vezes, não tem um teto para morar com dignidade.

Com uma população de 12.371 habitantes e uma área territorial de 468 km², o município de Nordestina, onde predomina a agricultura familiar, desponta também, de forma negativa na estatística de acessibilidade ao campo de trabalho com 0.07% e habitação com 0.59%. Localizada no polígono das secas, zona sisaleira, região de poucas chuvas e distante 240 km de Salvador, a comunidade tem a prefeitura como principal fonte de emprego, o que requer uma atenção maior por parte dos governantes. A economia local está restrita ao comércio, funcionários municipais, aposentados e benefícios da Bolsa Família e BPC.

A Somália é aqui
Para se conhecer a extrema pobreza não é necessário andar muito. A comunidade de Palha, área quilombola da zona rural de Nordestina é um exemplo, onde moram várias famílias esquecidas pela sociedade e pela maioria dos programas sociais dos governos estadual e federal. Com o marido desempregado e vivendo em condições subumanas numa pequenina casa de taipa de dois cômodos, 4x 3 metros, com piso de areia batida, com quatro filhos (um deficiente), a domestica Ana Paula Silva Reis, 25 anos é um exemplo de miséria absoluta, tendo como única fonte de renda para sobrevivência de todos R$ 166,00 que recebe da Bolsa Família.

Envergonhada com a situação que vive e sem querer mostrar a casa por dentro, Ana Paula disse que o dinheiro que recebe da Bolsa Família, mal dá para comprar algumas coisas para comer e fraldas para o filho deficiente que precisa estar na escola. “Olha moço, tem dia que temos o que comer, em outros não. Farinha, só quando minha mãe recebe o dinheiro da aposentadoria para nos dar um pouco. Tenho fé em Deus, que vai aparecer um cristão, que vai olhar para nós e vai construir nosso sonho, que é uma casa para que eu possa viver com um pouco de dignidade com meu marido e os quatro filhos que não tem um lugar para dormir”, desabafa emocionada Ana Paula, lembrando que vai ter que arrumar o que fazer para poder levar comida para dentro de casa porque seu marido, que trabalhava em um motor de sisal está sem fazer nada por causa da paralisação das maquinas de desfibramento.

Menos dramático, mas preocupante também, é a situação da aposentada Enedite da Silva Reis, 58 anos, mãe de 12 filhos, que recebe R$ 500,00 por mês e ainda tem que ajudar os filhos com a compra de farinha para alimentar os netos. O lavrador Anfilófio Monteiro da Silva Reis, 60 anos, comentou que trabalhava em um motor de sisal e chegava a ganhar até R$ 80,00 por semana, e agora está desempregado porque as maquinas estão paradas por causa do sol escaldante que fez o sisal murchar, deixando as folhas sem condições de desfibrar, o que vem dificultando a oferta de trabalho na região.

Pior seca
O lavrador José Ferreira da Silva, disse que não via o açude municipal secar ha 40 anos: “Pra mim essa é a pior seca que já vi em minha vida. Se Deus não tiver pena de nós, seres humanos e dos animais, não vai ficar nada vivo. Os mananciais estão secos, as pastagens esturricadas pelo sol escaldante e os animais  dizimados pela fome e sede. Um carro-pipa de água custa entre R$ 70,00 e R$ 150,00 – de acordo com o tamanho do tanque pipa e da distancia da propriedade” relata.

O criador José Paulo Guimarães Filho, 66 anos, Fazenda Queimada da Farinha, disse que essa é a primeira vez que vê uma seca tão seria: “Até a palma que é um cacto resistente ao sol, está morrendo no pasto e a pindoba, que vem servindo de alimentação alternativa para o gado”. Sobre a pindoba ele garante que pode ser uma bomba mortal para o animal que comer sua folha em demasia e não conseguir digerir em tempo hábil porque ela possui uma fibra bastante resistente e pode embuchar no estomago do animal, levando-a a morte. “Mesmo sabedor desse risco que corremos, não sei o que seria de nós se não existisse a pindobeira para darmos ao gado nessa hora tão difícil que vivemos com a seca” disse.  

A secretária de Assistência Social, Maria das Graças Moura Lopes, garante que se não chover dentro de mais alguns dias, as aulas no município poderão ser suspensas. Ela declarou que a burocracia por parte do INCRA, para a regularização de titulo de posse coletiva de terra, que contempla 167 famílias de quilombolas  moradoras nas comunidades de: Bonsucesso, Caldeirão, Sangue, Fumaça, Grotas, Laje das Cabras, Lagoa da Cruz, Salina, Lagoa do Boi, Palha, Poças e Tanque Bonito, têm prejudicado essa gente que tem ficado sem receber alguns benefícios da administração do prefeito Ito Araújo, por falta de documentação das propriedades. Maria das Graças diz ainda que o município conta com 10.133 pessoas cadastradas no CADUNICO, tem 100% de cobertura do Cras, 884 crianças assistidas pelo Serviço de Convivência – ex-PETI e 150 pelo Pro Jovem.