terça-feira, 23 de maio de 2017

Não vou renunciar. Se quiserem, me derrubem"


Temer disse que por ingenuidade receber empresário e foi vítima de armação - Foto: José Cruz | Agência Brasil
Temer disse que por ingenuidade receber empresário e foi vítima de armação
José Cruz | Agência Brasil
Em entrevista nesta segunda-feira, 22, o presidente Michel Temer afirmou que "eu não vou renunciar. Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração de culpa". O peemedebista, que deu entrevista para o jornal "Folha de S. Paulo", referia-se as denúncias do dono da JBS, Joesley Batista, que fez uma delação premiada após gravar uma conversa com Temer.
Com momentos de irritação, Temer tentou demonstrar que foi vítima de uma armação, falou que foi ingênuo e que seu assessor, o deputado Rodrigo Rocha Loures, a quem chama de "coitadinho", tem "boa índole". Ao mesmo tempo, ele chamou Joesley de "empresário grampeador". 
" Ele falou que tinha [comprado] dois juízes e um procurador. Conheço o Joesley de antes desse episódio. Sei que ele é um falastrão
Michel Temer, presidente
Na entrevista, Temer desqualificou a gravação em que ele aparece conversando sobre o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB). Ele negou que tenha incentivado o pagamento de propina para silenciar Cunha. Contudo, confirmou que Joesley disse que estava mantendo uma boa relação com o ex-deputado, o que Temer respondeu "mantenha isso, viu". O presidente, no entanto, não esclareceu porque orientou o empresário a manter essa "boa relação". 
Ao ser questionado sobre o entendeu quando Joesley questionou sobre zerar e liquidar pendências, Temer foi evasivo. "Não sei. Não dei a menor atenção a isso", disse ele, confirmando também que ouviu o empresário afirmar que "tinha [comprado] dois juízes e um procurador". O presidente contou que considerou a afirmação uma "bobagem", porque sabia que Joesley é "um falastrão". 
O presidente alegou que atendeu o empresário após este insistir e admitiu que errou ao recebê-lo em sua casa de noite, fora da sua agenda oficial. Contudo, disse que agiu por hábito e "ingenuidade", porque costuma receber muitas pessoas ao longo do dia.
"Empresário grampeador"
Temer ironizou e chamou Joesley de "empresário grampeador". "Qual é o título que ele tem de ter? Coitadinho, ele tem de ter vergonha disso. Ele vai carregar isso pelo resto da vida. E vai transmitir uma herança muito desagradável para os filhos", disse  o presidente, alegando que o dono da JBS armou as gravações com o intuito de se beneficiar com as delações.
" Vocês viram o jogo que ele fez na Bolsa. Ele não teve uma informação privilegiada, ele produziu uma informação privilegiada
Michel Temer, presidente
O peemedebista demonstrou discordar do acordo da Procuradoria-Geral da República (PGR) com Joesley, que foi liberado para sair do Brasil. "Chamou a atenção de todos a tranquilidade com que ele saiu do país, quando muitos estão na prisão. Ou, quando saem, saem com tornozeleira. Além disso, vocês viram o jogo que ele fez na Bolsa. Ele não teve uma informação privilegiada, ele produziu uma informação privilegiada. Ele sabia, empresário sagaz como é, que no momento em que ele entregasse a gravação, o dólar subiria e as ações de sua empresa cairiam. Ele comprou US$ 1 bilhão e vendeu as ações antes da queda".
Rocha Loures
Na entrevista, Temer também confirmou que indicou o assessor, o deputado Rodrigo Rocha Loures, como seu intermediário em conversas com a JBS. Na gravação feita por Joesley, o presidente disse que o empresário poderia resolver "tudo" com Rocha Loures. Contudo, o peemedebista alegou que se referia a questões administrativas.
Rocha Loures foi filmado pela Polícia Federal recebendo R$ 500 mil do grupo JBS. Ao ser questionado sobre o fato, o presidente insinuou que o assessor foi vítima de uma armação. Para ele, Rocha Loures foi "induzido, seduzido por ofertas mirabolantes e irreais".
Temer assumiu que ele errou, mas argumentou que ele é "um homem, coitado, de boa índole". O presidente negou uma relação pessoal com o assessor, nem que ele tenha agido em seu nome.
Base
O presidente admitiu que as denúncias afetaram a economia brasileira, mas negou que tenha perdido apoio político. Segundo ele, o PSB já tinha deixado sua base política por conta da reforma da Previdência e destacou que, apesar da saída do PPS, o ministro Raul Jungmann, que é da legenda, continua na sua equipe.
Temer ainda destacou que a parceria com o PSDB deve continuar até o fim do seu governo e defendeu que vai "revelar força política" aprovando matérias importantes.