terça-feira, 1 de março de 2016

'É desnecessário e inoportuno fazer Reforma da Previdência agora'


 
Deputado Federal Daniel Almeida

Deputado Federal Daniel Almeida

Líder do PC do B na Câmara Federal, o deputado Daniel Almeida esteve em Feira de Santana recentemente, para encontro com o Diretório Municipal do partido ao qual é filiado, de forma clandestina desde 1981 e formalmente a partir de 1985. Nunca esteve em outra legenda. Nasceu em Mairi, sertão da Bahia, tem 61 anos. O comunista com formação em História foi presidente da CUT (Central Única de Trabalhadores), vereador de quatro mandatos em Salvado e operário no Pólo Petroquímico. Atualmente exerce o quarto mandato de deputado federal e é presidente estadual do PC do B. Nesta entrevista, ele fala ao site Bahia na Política sobre o cenário da política em níveis nacional, estadual e municipal.



Como o PC do B vai conduzir a sucessão municipal em Salvador?

O PC do B terá uma candidata, Alice Portugal. Estamos na fase de montar alianças para o apoio à candidatura e também discutindo o programa de governo. Achamos que dessa vez é o momento que o partido tem para ter uma candidatura e um projeto transformador, renovador, com perfil de esquerda em Salvador. Tudo isso já está amadurecido e definido no partido.



No que se refere a Feira de Santana, como ficará o partido nas eleições de outubro? Terá candidato a prefeito?



A tendência em Feira é buscarmos aliança, mas não está descartada a possibilidade de termos uma candidatura, porém, o cenário mais provável é nos aliar a uma candidatura e construir um projeto político que possa garantir uma candidatura no segundo turno, onde vamos enfrentar o atual prefeito. Ganhar a eleição é nosso objetivo, e ao lado disso buscar retomar um espaço na Câmara de Vereadores, pois o partido já teve uma presença na Casa da Cidadania durante mais de 20 anos, que é reconhecida e lembrada até os dias de hoje, o ex-vereador Messias Gonzaga. Está na hora de termos um plano ajustado que garanta o retorno à Câmara Municipal. Estamos discutindo qual o melhor caminho para atingirmos este objetivo.



Qual a avaliação que o senhor faz do governo Dilma Roussef, uma vez que seu partido tem participação?



O governo tem encontrado muitas dificuldades, são evidentes. Nós temos uma crise econômica grave, pois a economia está em recessão pelo segundo ano. Essa crise tem responsabilidade da economia externa, que também vive dificuldade, pois isso vem acontecendo na China, na Rússia, na Europa, nos Estados Unidos, fato que está impactando a vida do nosso país. A atual situação está relacionada com a crise política, uma parte daqueles que perderam eleição em 2014, não aceitam o resultado e têm insistido em manter uma crise política como se a eleição não tivesse acabado e isso tem dificultado muitos investimentos novos na economia brasileira.


Empresas de grande porte na área da construção estão paralisadas sem poder contratar com estado e isso, por si só, também produz um ambiente de muito desemprego. A Petrobras, que é a principal empresa do país, praticamente está sem poder executar seu plano de ação, tudo isso soma para agravar a crise que afeta o governo Dilma. Defendemos e apoiamos o governo porque achamos que esse projeto que a presidente representa desde 2003, com Lula, é o melhor para o Brasil e produziu grandes resultados.


Como o líder do PC do B define o Congresso Nacional?



O Congresso tem um perfil conservador, mas foi resultado da urna de 2014, a vontade popular, por isso existe a dificuldade de encaminhar proposições mais próximas dos interesses do povo. O Congresso tem na sua direção líderes também com esse perfil conservador, especialmente na Câmara dos Deputados. A eleição de Eduardo Cunha tem dificultado que o Congresso cumpra o seu papel e seja o porta voz da sociedade, das grandes bandeiras, dos interesses do país. Estou incomodado com a agenda que o congresso tem feito, ao invés de cuidar da preservação das políticas públicas, da valorização do trabalho, de políticas de geração de emprego e valorizar mais a saúde, a educação, a segurança pública, tem atuado muitas vezes para atender interesses de banqueiros.

Não é possível que uma economia como a nossa, que tem tantas necessidades de produzir, gerar emprego, só banco ganhe. E a Casa, infelizmente, tem adotado medidas para favorecer esse tipo de anomalia da nossa economia. Eu não gosto do perfil que a Casa tem e nem do seu dirigente principal, que é Eduardo Cunha, mas vamos fazer as mudanças, respeitando a vontade popular e a democracia brasileira.



Reforma da Previdência. Como o senhor avalia a possibilidade?



Acho que não é necessário fazer reforma da Previdência e considero ser inoportuno fazer esse debate agora, pois se trata de um tema sempre discutido. Se for uma reforma para prejudicar os trabalhadores, nós não podemos aceitar. No ano passado, nós fizemos uma pequena reforma na Previdência, aprovamos uma lei que estabelece o chamado fator 85/95, quando mulheres aposentam com a somatória de 85 anos entre idade e tempo de serviço e homem com a soma de 95 anos. Essa já foi uma grande reforma, que vai dificultar muita gente se aposentar, ou pelo menos manter mais tempo no mercado de trabalho. Para que fazer uma reforma agora? Acho que é absolutamente desnecessário e não se faz uma reforma para jogar nas costas do trabalhador a responsabilidade pela crise, não podemos aceitar isso.



Como tem observado o governo Rui Costa?



O governo de Rui Costa tem sido realizador, muito positivo. Ele se revela um bom gestor e um homem sensível também para o contato político, tem circulado a Bahia, possui uma enorme capacidade de ouvir as pessoas e tem produzido bons resultados. A gestão de Rui tem conquistado apoio do Governo Federal para obras no Estado, e está buscando também apoio lá fora. Tem sido um bom governo, mas o Estado também é vítima da crise econômica, no momento de dificuldades e queda de arrecadação, o ritmo de ações do governo diminui.



Como líder na Câmara, o que o senhor pode fazer em prol da Bahia?



Temos procurado colocar o mandato e esse papel de liderança em defesa sempre do Estado. Procuramos sempre dialogar com o governador, conversar com ministros e também com a presidência da República, isso para garantir o fluxo de recursos, como por exemplo as obras que estão acontecendo no metrô em Salvador e as obras de infraestrutura no Estado. O líder tem mais acesso aos ministros, à própria presidente da República. Chegam primeiro às mãos do líder as matérias que vão ser deliberadas no Congresso, a agenda, a pauta que vai ser cumprida na Casa, por isso o líder acaba tendo uma função mais destacada e eu estou sempre de olho nos assuntos de interesse do Estado.



Qual a sua posição sobre a legalização do aborto?

Isso é um tema sempre muito polêmico, pois ninguém pode ser a favor do aborto, mas também não podemos deixar de proteger a mulher que por alguma razão tenha necessidade de abortar, isso na condição de um estupro, ou um feto que tenha problema grave, como por exemplo, nascer sem cérebro. Existem situações em que a mulher deve ter a opção de preservar sua vida, sua saúde, sua integridade e o Estado deve oferecer uma proteção. Então o aborto é algo que só pode fazer no último caso, quando não tem alternativa. Acho que tem que haver uma lei, um normativo que seja clara em relação a isso, como pode ser feito, quem pode fazer e onde, mas sempre levando em conta a proteção da mulher.