Após
as 12 mortes em Salvador, a Comissão Estadual da Verdade é mais um
órgão a cobrar apuração da chacina, ocorrida na Estrada das Barreiras,
no bairro do Cabula, durante uma troca de tiros entre policiais da
Rondesp e pessoas suspeitas de envolvimento em crimes. O grupo, que
originalmente apura torturas que ocorreram na Bahia no período no regime
militar, enviou um ofício ao governador Rui Costa manifestando
"preocupação". O confronto ocorreu na sexta-feira (12) e é apurado pelo
Ministério Público da Bahia (MP). A Anistia Internacional apontou
indícios de "execuções sumárias". No ofício enviado, a comissão estadual
faz críticas às declarações de membros do governo sobre a abordagem
policial. Segundo o grupo, os representantes fizeram declarações em "
defesa prévia e perigosa de fatos possivelmente violadores dos direitos
humanos, sobretudo do direito à vida, ainda que apoiados por parte da
população”, afirma. A Comissão comenta que há "contraditórias versões" entre representantes de órgãos de segurança e moradores dos bairros que presenciaram os fatos. Além disso, os membros cobram imparcialidade na apuração dos fatos. "Sugerimos que ampla campanha educacional seja deflagrada pelo Poder Publico, difundindo valores éticos e respeito à vida e ao cidadão, como forma de prevenção ao atual estado de desrespeito aos direitos humanos”. A Comissão Estadual da Verdade é formada por Carlos Navarro e Walter Pinheiro, advogados Vera Leonelli e Jackson Azevedo e pelos professores Amabília Almeida, Dulce Aquino e Joviniano Neto. Ministério Público - O procurador-geral de Justiça Márcio Fahel designou quatro promotores para atuar em conjunto no inquérito que apura as circunstâncias da ação policial. A decisão foi publicada no Diário da Justiça Eletrônico desta segunda-feira (9). São eles Davi Gallo, José Emmanuel Araújo Lemos, Ramires Tyrone Carvalho e Raimundo Nonato Moinhos. Na segunda-feira (9), os promotores ouviram cinco testemunhas, dentre quatro policiais e um sobrevivente da ação. Na terça, novos depoimentos estão sendo colhidos. A previsão é de que o inquérito seja concluído em 30 dias. "Vamos aguardar os laudos necroscópicos e as balísticas. Estamos tomando providências para adiantar as investigações. Só dá para ter alguma conclusão após esses laudos e provas", disse Gallo, em entrevista ao G1, na segunda-feira. No último sábado (7), três suspeitos que ficaram feridos após o confronto com a PM tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça, com o aval do MP-BA. |
Posição do governo - O
governador Rui Costa disse que não há indícios para o afastamento dos
policiais militares que participaram da ação. Um sargento da PM foi
atingido de raspão na cabeça, mas foi socorrido e teve alta médica. O
governador relatou na ocasião que "a Polícia Civil vai detalhar a
apuração e, se algum fato justificar o afastamento de alguém, isso será
feito. Mas nesse momento não há nenhum indicativo de afastamento dos
policiais". Parentes de vítimas - "Eles estavam no ponto [de tráfico],
[os policiais] renderam e mataram". A versão é do irmão de uma das 12
pessoas mortas durante ação de policiais militares na Vila Moisés,
Estrada das Barreiras. De acordo com jovem de 24 anos, que não será
identificado por questão de segurança, o irmão tinha 18 anos e tinha
envolvimento com tráfico. "Essa história de assalto a banco é mentira.
Eles, realmente, estavam no ponto [de venda drogas] e se renderam com a
chegada da polícia", contestou o posicionamento da PM, que disse ter
recebido denúncia de que o grupo planejava assaltar um banco da
região. O irmão do jovem relata, ainda, que três dos suspeitos
conseguiram fugir e se esconderam num matagal, sendo encontrados pela
polícia por volta das 8h e também mortos. "Ele morava com a avó. Não vou
dizer que meu filho era santo, mas o que a polícia fez foi covardia",
disse o pai do jovem sobre o caçula de 10 filhos. Ele disse que os
crimes podem ter sido cometidas em vingança pela morte de um coronel na
região, há cerca de um mês.