segunda-feira, 13 de maio de 2013

PARA A MÃE NATUREZA, LUTO!

 

 

Foto: Lis Braga

Neste dia 12 de maio de 2013, Dia das Mães, a cidade de Santo Estêvão, na Bahia, entrega um presente no mínimo indigesto para a Natureza: Dezenas de árvores de sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides, espécie da flora nativa do Brasil), cortadas e largadas ao chão para quem quiser registrar.

Na semana passada, dia 05, estive na cidade e vi que o paralelepípedo da Avenida castro Alves, uma via de 1km, havia sido retirado, junto com o canteiro central e as plantas ao redor; estranhei uma árvore no chão, pensei que pudesse ter sido tombada acidentalmente no passar de algum trator. Porém, disseram-me, em seguida, que o local seria asfaltado e todas as árvores teriam o mesmo destino daquela. Liguei imediatamente para o prefeito, Orlando Santiago, para ratificar a informação e ele me confirmou: “Aquela avenida é comercial e está ficando muito estreita para os caminhões descarregarem as mercadorias, mas as árvores serão replantadas.” Acalmou-me, um pouco, esta informação.

Foto: Lis Braga
Minha tranquilidade, no entanto, durou somente uma semana. Ao chegar ao município hoje, resolvi ir até o local para ver como estava e me deparei com uma imagem que me fez chorar: Um amontoado comprido de árvores cortadas em pedaços ao longo da rua.  
Morei em Santo Estêvão até os 14 anos de idade, quando me mudei para Salvador com o intuito de dar continuidade aos meus estudos. Vi, afinal, por volta de 1990, quando as árvores foram plantadas na obra de alargamento daquela avenida. Também as vi, por vezes, florescer, dando uma inconfundível e exuberante matiz amarela que, vista de cima, provavelmente assemelhar-se-ia com um longo tapete.

Certa vez, li um texto angustiado do ambientalista Dr. Ivan Claret Marques Fonseca, nascido ali e falecido em fevereiro deste ano, no qual ele falava a respeito de um abacateiro que havia marcado sua infância, e que fora cortado por conta de uma obra na cidade. Fico imaginando o que ele, que recebeu, pela ONU, o Prêmio Global 500 de Ecologia, estaria sentindo neste momento, assistindo á cena que vi hoje. Em um tempo em que se clama tanto por proteção ambiental, é, no mínimo, estranho presenciar atitudes que vão de encontro a este preceito.

As árvores de sibipiruna são amplamente utilizadas em todo o território nacional, tanto para ornamentação, quanto em processos de reflorestamento, por adaptarem-se bem a qualquer clima e região do país; assemelham-se muito com o pau-ferro e o pau-brasil. Como há muito divulgados, os benefícios do plantio de árvores vai desde a absorção de gás carbônico e liberação de oxigênio, até o resfriamento de ambientes urbanos e a retirada de partículas tóxicas do ar. Infelizmente, no entanto, há quem ignore a possibilidade de exercer um progresso sustentável.

A partir de muito em breve, aquela avenida se vestirá de uma longa listra negra que, na mente de alguns, significará progresso. E que, na minha e de todos aqueles que se preocupam com a preservação do planeta em que vivemos, traduzirá um único sentimento: Luto.

Por Lis Braga