Foto: Lis Braga |
Neste
dia 12 de maio de 2013, Dia das Mães, a cidade de Santo Estêvão, na
Bahia, entrega um presente no mínimo indigesto para a Natureza: Dezenas
de árvores de sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides, espécie da flora nativa do Brasil), cortadas e largadas ao chão para quem quiser registrar.
Na
semana passada, dia 05, estive na cidade e vi que o paralelepípedo da
Avenida castro Alves, uma via de 1km, havia sido retirado, junto com o
canteiro central e as plantas ao redor; estranhei uma árvore no chão,
pensei que pudesse ter sido tombada acidentalmente no passar de algum
trator. Porém, disseram-me, em seguida, que o local seria asfaltado e
todas as árvores teriam o mesmo destino daquela. Liguei imediatamente
para o prefeito, Orlando Santiago, para ratificar a informação e ele me
confirmou: “Aquela avenida é comercial e está ficando muito estreita
para os caminhões descarregarem as mercadorias, mas as árvores serão
replantadas.” Acalmou-me, um pouco, esta informação.
Foto: Lis Braga |
Minha
tranquilidade, no entanto, durou somente uma semana. Ao chegar ao
município hoje, resolvi ir até o local para ver como estava e me deparei
com uma imagem que me fez chorar: Um amontoado comprido de árvores
cortadas em pedaços ao longo da rua.
Morei
em Santo Estêvão até os 14 anos de idade, quando me mudei para Salvador
com o intuito de dar continuidade aos meus estudos. Vi, afinal, por
volta de 1990, quando as árvores foram plantadas na obra de alargamento
daquela avenida. Também as vi, por vezes, florescer, dando uma
inconfundível e exuberante matiz amarela que, vista de cima,
provavelmente assemelhar-se-ia com um longo tapete.
Certa
vez, li um texto angustiado do ambientalista Dr. Ivan Claret Marques
Fonseca, nascido ali e falecido em fevereiro deste ano, no qual ele
falava a respeito de um abacateiro que havia marcado sua infância, e que
fora cortado por conta de uma obra na cidade. Fico imaginando o que
ele, que recebeu, pela ONU, o Prêmio Global 500 de Ecologia, estaria
sentindo neste momento, assistindo á cena que vi hoje. Em um tempo em
que se clama tanto por proteção ambiental, é, no mínimo, estranho
presenciar atitudes que vão de encontro a este preceito.
As
árvores de sibipiruna são amplamente utilizadas em todo o território
nacional, tanto para ornamentação, quanto em processos de
reflorestamento, por adaptarem-se bem a qualquer clima e região do país;
assemelham-se muito com o pau-ferro e o pau-brasil. Como há muito
divulgados, os benefícios do plantio de árvores vai desde a absorção de
gás carbônico e liberação de oxigênio, até o resfriamento de ambientes
urbanos e a retirada de partículas tóxicas do ar. Infelizmente, no
entanto, há quem ignore a possibilidade de exercer um progresso
sustentável.
A
partir de muito em breve, aquela avenida se vestirá de uma longa listra
negra que, na mente de alguns, significará progresso. E que, na minha e
de todos aqueles que se preocupam com a preservação do planeta em que
vivemos, traduzirá um único sentimento: Luto.
Por Lis Braga