terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ogã é morto com tiro na cabeça por vizinho de terreiro de candomblé em Itaparica

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O vizinho da vítima se irritou com a presença dele durante a realização de um serviço no muro que dividia o imóvel dele e o terreiro de candomblé

 



Foto: Acervo Pessoal
Ogã fazia trabalhos beneficentes na Ilha


O ogã de um terreiro de candomblé no distrito de Baiacu, na Ilha de Itaparica, foi morto com um tiro na cabeça dado pelo vizinho quando realizava uma instalação elétrica numa área do templo religioso para a primeira reunião de uma associação beneficente que ele havia criado para ajudar crianças carentes da região.

Segundo Rosa Maria Lopes, ialorixá responsável pelo terreiro e companheira da vítima, Marcos Antônio Dias Santos Marcelino, de 35 anos, que também era eletricista, utilizava uma escada no muro que dividia o terreiro e a casa do vizinho para instalar uma lâmpada e iluminar o espaço onde ocorreria a reunião.

Irritado com a presença de Marcos Antônio entre os dois imóveis, Manoel Correia dos Santos, que havia acabado de retornar de um bar e apresentava sinais de embriaguez, disse que atiraria contra o vizinho caso ele não descesse da escada. 

Marcos teria se recusado a descer e Manoel apertou o gatilho da espingarda, mas a arma não funcionou na primeira tentativa de matar o eletricista. Enquanto Marcos Antônio se preparava para retirar os fios da instalação e descer da escada, dando fim às ameaças, o vizinho disparou mais uma vez e atingiu a cabeça do eletricista.
A vítima chegou a ser socorrida por familiares e amigos para o Hospital Geral de Itaparica, mas morreu a caminho da unidade, segundo Rosa Maria, esposa da vítima. Policiais da 5ª Companhia Independente da Polícia Militar foram chamados ao local do crime e prenderam o atirador em flagrante. Ele não ofereceu resistência e chegou a dizer que pediria desculpas à vítima pela atitude, segundo um investigador da 24ª Delegacia Territorial (Vera Cruz) que não quis se identificar.

Ogã é morto com tiro na cabeça por vizinho de terreiro de candomblé em Itaparica
Trabalho beneficente
O crime aconteceu por volta das 17h deste sábado (22) e a reunião sobre o projeto idealizado por Marcos Antônio ocorreria duas horas depois, às 19h, quando ele apresentaria à comunidade as ideias para tirar as crianças da região de qualquer tipo de risco social.
A Associação Beneficente Recreativa Cultural e Religiosa Ilê Axé Oyá Bagan Babá Aleporum, que levava o mesmo nome do terreiro, já havia sido registrada e começaria a atuar na região ainda este ano, segundo a comopanheira do eletricista, que tinha no terreiro a função de preparar os rituais. Ele é a pessoa escolhida pelo orixá que rege a casa para estar lúcido durante todos os trabalhos.

Intolerância religiosa
Para a ialorixá Rosa Maria, o atirador agiu por intolerância religiosa, já que ele não tinha uma relação de respeito com os membros do terreiro Ilê Axé Oyá Bagan Babá Aleporum. Segundo Manoel Márcio, filho de santo de Rosa Maria, "outros filhos da casa foram ameaçados. Ele já tinha atirado contra uma pessoa que frequenta o terreiro em outra ocasião, mas não tinha conseguido acertar a mira". Para a polícia, o homem agiu sob efeito do álcool e não tinha passagem pela polícia por qualquer tipo de ameaça ou atitude contra os membros do terreiro.
Despedida Após a morte, o corpo de Marcos Antônio foi encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica em Santo Antônio de Jesus, onde foi liberado neste domingo. O sepultamento do corpo da vítima foi realizado no cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, em Salvador, na manhã desta segunda-feira (24).
O eletricista e ogã, que "pretendia ajudar crianças ameaçadas pela falta de oportunidade na Ilha de Itaparica", segundo definiu o amigo Manoel Márcio, deixa três filhos. O inquérito sobre a morte de Marcos Antônio está sob a responsabilidade do delegado substituto Carlos Santos, que não estava na 24ª Delegacia nesta segunda-feira (24), e não foi localizado pela reportagem para falar sobre o caso.