quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Menina de 13 anos mostra problemas da escola e ganha fama no Facebook

 
 
Isadora não está no Canadá, não estrelou um clipe caseiro de ‘Para Nossa Alegria’, não estampa uma caixa de palitos há 65 anos, nem tampouco restaurou por conta própria uma obra de arte do século XIX. A estudante de 13 anos é a nova celebridade da internet por um motivo bem mais nobre: expôs no Facebook, para quem quisesse ver, alguns dos problemas do ensino público no país, a partir de fotos e comentários sobre a Escola Básica Municipal Maria Tomazia Coelho, onde estuda, em Florianópolis (Santa Catarina).
A página, intitulada Diário de Classe, foi criada pela estudante Isadora Faber em 11 de julho e até a noite de ontem já havia sido curtida por 120 mil pessoas. A menina loirinha e magrinha, como muitas de sua cidade, é uma das melhores alunas da sala. Ela teve a ideia após uma conversa com a irmã mais velha sobre uma estudante escocesa que  fez um blog para reclamar da merenda escolar.
Isadora também reclamou da merenda. Mas não ficou só nisso. Nesses quase dois meses em que a página está no ar, ela já publicou fotos de janela quebrada, paredes pichadas, fiação solta nas paredes, goteiras, vaso sanitário sem tampa, fechadura danificada, e comentários sobre o fraco desempenho dos professores auxiliares. Também foi postado um vídeo da bagunça dos alunos durante uma aula de Matemática, o que lhe trouxe problemas com a direção da escola, que solicitou a retirada das imagens.
“Eu e a Melina (amiga que ajudava nas postagens) paramos na diretoria e ligaram pros nossos pais e mandaram bilhete pedindo a presença deles na escola (...) pediu para tirar o vídeo do professor”, explica Isadora em uma das postagens. O vídeo foi retirado após a promessa de que o professor seria substituído, mas, como isso não aconteceu, as imagens logo voltaram pro site. 

Menina de 13 anos mostra problemas da escola e ganha fama no Facebook
Resultados
Até esta terça (28), o professor ainda não tinha sido demitido, mas o protesto on line da aluna da 7ª série já rendeu frutos. “Já consertaram umas portas, maçanetas e bebedouros”, contou a menina ontem ao CORREIO. A entrevista, aliás, foi disputada. “Estou meio cansada, muita gente está querendo me entrevistar. Já fiz mais de 20 (entrevistas) hoje (ontem)”, contou, ainda surpresa com a repercussão de suas denúncias.  
“Eu sempre reclamei, mas nunca adiantou. Pensei que publicar poderia fazer com que a prefeitura se sensibilizasse. Mas não tinha noção do que estava por vir”. Durante uma entrevista na fan page de um jornal local, ela acrescentou que “esperava ter só uns 100 curtidores”. Dias antes, no ‘Diário’, escreveu: “Nós queremos chegar mais adiante do que isso, queremos chegar na PREFEITURA, quero que vejam isso”.
Conseguiu. A repercussão foi tão grande que motivou  uma entrevista coletiva da secretária municipal de Educação de Florianópolis, Sydneia Gaspar de Oliveira, para falar sobre os problemas apontados por Isadora. “A escola recebe R$ 4 mil mensais para resolver esses problemas pequenos. A gestão deveria ter informado, mas eles nem perceberam que os bacios (banheiros) estavam quebrados, por exemplo. A aluna foi nossa ouvidoria, só podemos elogiar atitudes assim”, disse a secretária. 
A diretora da escola, Liziane Díaz Farias, reconheceu que a instituição passa por dificuldades e garantiu: “Estamos resolvendo os problemas apontados”.
Antes disso, porém, a estudante teve alguns percalços pelo caminho. “Muita gente ficou brava. Recebi indireta de professora na sala de aula, dizendo que ninguém podia ficar falando mal dos outros na internet. Estou sofrendo repressão até das merendeiras. Quando passo perto delas, elas falam: ‘Lá vem a fotógrafa, tirar uma foto’, e começam a rir”, conta.
Corajosa, Isadora até postou uma mensagem debochando de uma tentativa de intimidação que recebeu ‘in box’: “Se existisse realmente uma lei (que proibisse tirar foto da escola), por que deixar o recado só pra mim, e não publicar na minha página?”, provocou a estudante, que sempre teve apoio da família. 

Estudantes de Salvador aprovam ideia
Como para a internet não há distância, estudantes soteropolitanos também ‘curtiram’ a iniciativa da fanpage Diário de Classe. “(O Facebook) é uma rede que quase todo mundo tem, está bombando, é uma forma dos nossos problemas se transformarem no problema de todos”, diz o estudante Anderson Conceição da Silva, 17 anos. “É o melhor meio hoje em dia, os alunos veem, compartilham e chega mais rápido aos ouvidos de quem tem que resolver a situação”, completa a presidente da Associação de Grêmios e Estudantes de Salvador (Ages), Raquel Barbosa, 20.
E se houvesse um ‘Diário de Classe’ que relatasse os problemas das escolas públicas de Salvador, quais reclamações chegariam na página? Foi essa a pergunta que o CORREIO fez a estudantes de Salvador.
Aluno do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Deputado Manoel Novais, no Canela, Tiago Jesus da Silva, 18, afirma que a principal queixa em relação a unidade é a falta de professores. “O problema tem sido muitas aulas vagas, por causa da falta de professores, como da disciplina Português. E isso tem acontecido depois de toda essa greve que enfrentamos. A escola passou por reforma, então quanto a estrutura física não tenho o que reclamar”, relata.
O mesmo não pode dizer Raquel Barbosa, que estuda no Colégio Estadual Landulfo Alves, na Cidade Baixa. Rachaduras, ferrugens, infiltrações, falta de bebedouros e o mau cheiro do esgoto estão entre as queixas dos estudantes.
“Recentemente, um PVC do teto caiu no ombro de um aluno, os elevadores estão quebrados e os cadeirantes são obrigados a subir em  uma rampa que até alaga quando chove, por causa de buracos. Minha escola está em uma situação abominável”, diz Raquel.
A situação do Landulfo Alves é compartilhada por alunos do colégio, através do Facebook. O perfil da Ages, que tem quase 2 mil amigos, compartilha notícias que envolvem a educação no Brasil.
Alunos do Colégio Estadual Marquês de Maricá, no Pau Miúdo, contam que no seus diários relatariam algo que tem dificultado os estudos ultimamente: “A escola está sem ventilador, é um calor dos infernos. Assim fica difícil”, diz o estudante do 3º ano do ensino médio Anderson Silva. 

Protesto bem-humorado, 'Vida de Estudete"
Estudetes de Itaparica chamaram atenção para greve
Cheias da greve dos professores da rede estadual, que começou em abril e durou 115 dias, as primas Bruna e Jamile Moreira,  18 e 19 anos, junto com a amiga Isabele Alcântara, 20, se tornaram exemplo de webcelebrities na Bahia.
A fama foi conquistada com um vídeo divulgado no site Youtube em que o trio aparece dançando a música Vida de Estudete, parodiando o repertório das protagonistas da novela Cheias de Charme (Globo/TV Bahia).
As estudetes de Itaparica, como ficaram conhecidas, são alunas do Colégio Estadual Democrático Jutahy Magalhães, onde foi solicitado o trabalho escolar   por uma professora que não aderiu ao movimento - que veio a dar no vídeo.
O vídeo, que chegou a ter quase 400 mil visualizações, fala da greve e também chama atenção para a educação no estado. Após a greve,  elas continuam apresentando um programa na Rádio Tupinambá FM, de Itaparica, onde dão dicas de vestibular. (Correio)
Colaborou Alexandro Mota