quinta-feira, 19 de janeiro de 2012



16/01/2012 13:53

ADVOGADO SEM GRAVATA

Chegando em cima da hora para defender um cliente, o advogado Fábio Vargas de
Oliveira, da cidade de Juiz de Fora (MG), não foi admitido no tribunal por não estar
usando gravata. A causa foi perdida e o advogado entrou com um recurso contra a
União solicitando uma reparação financeira de R$ 30.600,00. Depois de idas e vindas,
o recurso foi aceito e a sentença reconhece que “o advogado deve se apresentar ao
tribunal vestindo roupas adequadas ao exercício da profissão, porém o uso de paletó e
gravata não tem obrigatoriedade imposta na lei”.

O USO da gravata é um costume antigo, já presente nas civilizações egípcia e chinesa.
Foi popularizada na Europa pelo rei Luiz XIV quando contratou soldados mercenários
da Croácia na Guerra dos 30 anos (1618-1648). Eles usavam panos coloridos ao redor do
pescoço. O rei e as elites se encantaram e a moda pegou. Em alusão aos guerreiros, a peça
foi denominada “croata” tornando-se símbolo de bom gosto e nobreza.

A TRADICIONAL gravata, em cores e formatos diversos, chegou até nós, como símbolo
de sucesso e responsabilidade. Mas a aparência nem sempre é justificada pela vida dos
seus usuários. Existe até a expressão: os crimes dos colarinhos brancos. São os poderosos
que, partindo da situação e dos privilégios de classe, cometem crimes quase nunca punidos.
Enquanto o pobre – colarinho puído e sujo – é condenado pelo roubo de uma galinha. Já o
filósofo grego Diógenes garantia que os ladrões grandes enforcavam os pequenos.

A DIGNIDADE da pessoa não provém da roupa, mesmo admitindo-se que o asseio é algo
que deve merecer o cuidado de todos. A conversão de Francisco de Assis teve seu momento
culminante na hora que, diante do bispo da cidade, entregou ao pai suas preciosas roupas.
Nem por isso perdeu a dignidade.

HÁ UMA DIFERENÇA muito grande ente o rótulo e o conteúdo. Há uma diferença muito
grande entre a aparência e a realidade. Nas prateleiras, por vezes, colocam-se vasos cheios
e o rótulo diferencia uns dos outros. Mas é possível o engano. O rótulo pode falar em
açúcar e o conteúdo ser sal. Ou não ter conteúdo algum.

NO EVANGELHO, Jesus fulmina os hipócritas fariseus e doutores da lei, comparando-
os a sepulcros, bonitos por fora, mas cheios de podridão (MT 23,27). Diante de Deus, não
adiantará apresentar mãos limpas, mas vazias. As mãos dos que trabalham e servem sempre
serão limpas. Eles possuem fichas limpas, o que nem sempre acontece com os colarinhos
brancos e pessoas que usam gravata.

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
di.vianfs@ig.com.br